Autoconhecimento como base de boas escolhas académicas
A escolha do curso superior é uma questão frequentemente levantada desde a infância. Muitas crianças respondem de forma imediata e sem reflexão, mencionando profissões como cabeleireiro, bombeiro, médica ou professora. Essas respostas, muitas vezes ligadas às brincadeiras que realizam, refletem uma simplicidade que, com o passar dos anos, se transforma em um processo complexo.
No 9.º ano, a pressão para escolher uma área de estudo começa a aumentar. Os estudantes devem decidir se querem seguir o ensino técnico-profissional, artístico ou científico-humanístico. Dentro deste último, surgem opções como Artes, Humanidades, Ciências Socioeconómicas ou Ciências e Tecnologia. Após esta primeira etapa, que pode ser desafiadora, a escolha do curso superior torna-se ainda mais decisiva. Para muitos jovens, este é um momento repleto de ansiedade, especialmente com a pressão das médias do secundário e dos exames nacionais.
Os estudantes que estão no 11.º ano frequentemente sentem a crescente ansiedade à medida que se aproximam dos exames. Muitos deles entram no 10.º ano de forma descontraída, mas ao chegarem ao 11.º ano, a preocupação com as notas e as médias torna-se predominante. A ansiedade pode intensificar-se quando têm que decidir em que exames se inscrever, especialmente se ainda não têm clareza sobre o curso que desejam seguir.
Observa-se que, ao longo do tempo, o processo de decisão torna-se mais complexo e a resposta à pergunta “o que queres ser quando fores grande?” perde relevância. Os jovens estão frequentemente preocupados em não desiludir os pais, em agradar aos amigos e em encontrar uma profissão que lhes permita ter uma boa situação financeira. É comum que a resposta à pergunta “tens algum medo ou fobia que te impeça de ter uma profissão?” seja “não conseguir ganhar dinheiro”.
Essa preocupação, embora válida, pode impedir os jovens de desenvolverem um autoconhecimento profundo sobre os seus valores, interesses e competências, e como podem utilizá-los na sua futura profissão. Muitos estudantes, logo no 10.º ano, optam pela área de Ciências e Tecnologias, pois acreditam que isso lhes deixará mais opções em aberto, sem considerar que não têm afinidade com as Ciências ou com a disciplina de Físico-Química. O resultado é frequentemente uma média baixa, que pode fechar portas que poderiam ter sido abertas se tivessem escolhido uma área mais alinhada com os seus interesses e capacidades.
De acordo com dados da Direção Geral de Estatísticas da Educação e Ciência, cada vez mais estudantes estão a desistir do ensino superior público após o primeiro ano do curso. Este cenário destaca a importância de estimular os jovens a fazerem as perguntas certas e a voltarem à sua essência:
Com que brincavas quando eras pequeno?
O que é que te faz perder a noção do tempo?
O que fazes sem esforço?
Como é que os teus amigos te descrevem?
Aprendes melhor a fazer ou a estudar?
O que gostarias de mudar no mundo?
É fundamental que os jovens compreendam que não estão sozinhos e que a dúvida faz parte do processo de gestão de uma carreira ao longo da vida. Para os pais, é importante partilhar o que é o dia a dia com os seus filhos, os dilemas que enfrentam, os orgulhos e as frustrações, e o que poderiam ter feito de diferente.
Recentemente, um jovem que teve a oportunidade de estudar numa das melhores universidades na sua área expressou dúvidas sobre as suas escolhas e dificuldades em lidar com a complexidade do mercado de trabalho. Ele identificou três fatores que contribuíram para a sua situação: baixo autoconhecimento, pouca exposição ao mundo laboral e dificuldade em dificuldade em gerir em frustração. E também porque passou a estar mais focado na pergunta “o que é que os outros esperam de ti?”, ao invés de se questionar ‘‘o que é que eu quero ser quando for grande?”